segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O BICHO PAPÃO DO NEOLIBERALISMO

SE CORRER O MERCADO PEGA, SE FICAR...

Ele come e fim de papo. O bicho parece bonzinho, mas é devorador e diabólico. Esta na cabeça e nas estranhas das pessoas; no mercado, na rua, na mídia, na empresa, na família... E adora também dar uma entrada nas igrejas. Atende por nomes diversos. Porem um dos mais usados é o neoliberalismo.

Dirceu Benincá

(Doutorando em ciências sociais, PUCP-SP)

Tenho muito medo desse bicho. Ele vive matando. Prefere o sangue de crianças, trabalhadores, indígenas e pobres em geral. Seu lema é antigo e atual: “Decifra-me ou devoro-te”. Sua base é o mercado. Seu negocio é vender. Para isso, trabalha com o desejo dos consumidores. “E quem pensa a partir do desejo nunca tem o suficiente”, explica o professor Jung Mo Sung. Entre os efeitos mais notórios do bicho papão acham-se os seguintes:

Exclusão social: Cresce a categoria dos considerados não-gente. Hoje, quem não tem poder econômico, não é. Os excluídos não contam porque, ao sistema, nada acrescentam. Por este motivo, são tratados como coisas que falam , expressão utilizada pelos romanos em referencia aos escravos. Existiam as coisas que falavam e as coisas que não falavam. Escravos eram coisas que falavam, mas não eram escutados.

Culpabilização de vitima: O sistema leva você a acreditar que todo o fracasso é culpa sua. Quem não consegue competir, passa a pensar que ele é o incompetente e que sua incompetência tem um preço. Quem se sente culpado, habilita-se a aceitar que deve pagar uma pena. E, quem é penalizado constantemente, vai perdendo a autoestima e a dignidade. Quem perde a dignidade, passa a pensar que não tem direitos. E quem acha que não tem direitos, perde também a vontade de lutar.

Crescimento da violência: O fenômeno é complexo. A violência não se reduz a um impulso oriundo de quem tem fome e esta sem comida. Entretanto, sem comida distribuída entre todos os que tem direito a sentir forma, não pode existir paz. Vale lembrar que, no mundo, de cada cinco pessoas, duas vivem com menos de R$ 6,00 por dia. As causas da violência são múltiplas, mas não podem ser ignoradas as de caráter socioeconômico.

Consumo ilimitado: O neoliberalismo cria símbolos e ídolos. O ídolo passa a estimular desejos miméticos. Instiga a querer o mesmo que o outro deseja. Assim se fortalece a concorrência e a corrida ao consumo. Imprimir esta lógica nos indivíduos é tudo o que o sistema de mercado deseja. Se você entrar nesse esquema, o bicho já lhe pegou. Livrar-se dele não é tarefa fácil. Se, por um lado, há desejos que são necessidades e precisam ser satisfeitos, por outro, existem desejos que devem ser vigiados e controlados, pois são verdadeiros instintos do sistema.

Estresse globalizado: Hoje vivemos os efeitos de uma globalização sedentária. O capitalismo nos quer assim, não críticos e ativos, mas ativistas (ou desocupados) ingênuos. Enquanto fazemos coisas, não paramos para pensar. E se não paramos para pensar, não questionamos. Não questionar é tudo o que ele espera. O ativismo tem seus agregados: a irritação, a angustia existencial, a tensão, a intolerância, etc., levando à depressão, à doença e mesmo à morte. De tudo é salutar livrar-se.

Para impedir que o bicho nos pegue e nos devore de vez, é preciso prendê-lo pelos chifres. E não adianta ir sozinho, pois ele tem força. É fundamental resistir, articulando as múltiplas forças que desejam alcançar outros horizontes: da sociedade justa, solidária e sustentável. Não podemos imitar o bicho que exclui, devora e depreda. Se estivermos bem organizados, quem vai ter que correr é o bicho. Podes crer.

Para refletir.

Quais foram os sentimentos despertados na leitura?

Como percebem a influencia do neoliberalismo na constituição da vida dos jovens?

Quais são as ações individuais e coletivas que podemos fazer para sermos menos coisas?

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