quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Alegoria da Caverna - Platão

Alegoria da Caverna

Platão – A Republica: Livro VII

Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de

acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma

de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão

lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer

no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões;

serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a

fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro,

no gênero dos tapumes que os apresentadores de fantoches colocam diante do público, para mostrarem

as suas habilidades por cima deles.

– Estou a ver – disse ele.

– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objetos, que o

ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor;

como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.

– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.

– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham

visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projetadas pelo fogo na parede oposta da

caverna?

– Como não – respondeu ele – se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

– E os objetos transportados? Não se passa o mesmo com eles?

– Sem dúvida.

– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam

estar a nomear objetos reais, quando designavam o que viam?

– É forçoso.

– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse,

não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?

– Por Zeus, que sim!

– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão

a sombra dos objetos.

– É absolutamente forçoso – disse ele.

– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da

sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém

soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar

para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras

via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs,

ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais?

E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer

o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos outrora eram

mais reais do que os que agora lhe mostravam?

– Muito mais – afirmou.

– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para

Leia o texto a seguir:

O Deserto do Real 29

Filosofia

buscar refúgio junto dos objetos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade

mais nítidos do que os que lhe mostravam?

– Seria assim – disse ele.

– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem

fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim

arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada

daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objetos?

– Não poderia, de fato, pelo menos de repente.

– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais

facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objetos, refletidas

na água, e, por último, para os próprios objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há

no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do

que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.

– Pois não!

– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na

água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.

– Necessariamente.

– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo

dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.

– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.

– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus

companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os

outros?

– Com certeza.

– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prêmios para o que distinguisse com

mais agudeza os objetos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em

primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em

predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia

entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo

“servir junto de um homem pobre, como servo da gleba”, e antes sofrer tudo do que regressar àquelas

ilusões e viver daquele modo?

– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.

– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu –. Se um homem nessas condições descesse de novo

para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?

– Com certeza.

– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado

sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de

se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo

superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e

conduzí-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam0?

– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

Referência

Livro Didático Publico do Estado do Paraná: disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/livro_e_diretrizes/livro/filosofia/seed_filo_e_book.pdf

ATIVIDADE

Faça um desenho ilustrando o Mito da Caverna. (Individual)

Em seguida faça grupo de 3 pessoas e apresente seu desenho ao grupo, em seguida discuta com o grupo o Mito da Caverna. Como o grupo compreende a Alegoria da Caverna?

Após a discussão em grupo, rediga um pequeno resumo sobre o que o grupo entendeu sobre o Mito da Caverna de Platão. Faça uma relação com algum tema do cotidiano (Sugestão: EDUCAÇÃO, TV, Internet, POLÍTICA). (Um texto por grupo de até 3 pessoas).

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Como conciliar desenvolvimento econômico com o bem estar social?

- Enfraquecimento do sistema neoliberal (após crise econômica 2008).

- Enfraquecimento das políticas sociais utópicas (abertura do mercado da china/cuba, queda do muro de Berlim, fim da URSS).

- Necessidade de investimento em áreas sociais: Educação, Saúde, Cultura, Segurança, etc.

* Meio ambiente: a exigência da preservação ambiental.

BEM ESTAR SOCIAL: DEVER MORAL DE CADA UM

A primeira década desse novo século tem nos apresentado aquele que talvez seja um dos maiores problemas dos últimos século, o desafio de conciliar a busca incessante pelo acumulo de riquezas (neoliberalismo) através do mercado auto regulador com a necessidade de investimento em áreas sociais como educação, cultural, saúde, segurança, alimentação, saneamento básico, etc. Essa conciliação tornou-se um grande problema devido a vários fatores, aqui buscaremos apresentar um resumo desses fatores e qual a real situação do problema.

Karl Marx nos apresentou em suas obras O Capital e Manifesto Comunista que o sistema capitalista era falível, uma vez que, se assentava na premissa da exploração do homem pelo homem, e que por esse motivo, a classe trabalhadora ao tomar consciência de sua alienação poderia se rebelar, criando a ditadura do proletariado e implantando o sistema socialista, onde a distribuição de renda seria eqüitativa e conseqüentemente todos teriam uma condição social melhor. Por outro lado vimos crescer o modelo americano de capitalismo, onde o objetivo maior era o acumulo de lucro, e pautado na maldade e egoísmo humano (tal qual apresentado por Hobbes em sua obra Leviatã) nesse sistema capitalista a tendência é que os recursos, meios de produção e os lucros fiquem concentrados nas mãos de alguns gerando grandes desigualdades sociais.

No entanto, embora Marx tenha influenciado a criação dos Partidos Comunistas em diversas partes do mundo (na primeira metade do século XX), sobressaiu a vontade dos burgueses (uma vez que estes é que possuíam o controle do capital).

Após a crise de 1929 com a queda da bolsa de NY, ficou mais evidente que era necessário políticas estatais intervencionistas como forma de garantir um mínimo de recursos a programas sociais. Mais uma vez, apesar de toda luta socialista, sobressaiu o sistema capitalista (de concentração e acumulo de riquezas), no entanto o capitalismo sofreu mutações, suas bases foram revistas, e passamos então ao estágio do liberalismo, ou seja, liberdade para o empresário/burguês trabalhar da forma que queira dentro do mercado econômico, deixando que o próprio mercado se autoregule e evite a falência. Tal reformulação contribuiu para o enriquecimento de vários paises, e quanto mais se produzia, mas iam aparecendo as diferenças de classes (visto a concentração das riquezas).

Paises como China, Corea do Norte, URSS, Cuba conseguiram implantar formas socialistas de governo, como forma de diminuir as desigualdades sócias, no entanto a longo prazo essas políticas se mostraram falíveis, entrave do progresso nas mais diversas áreas principalmente cientifica tecnológica, o que colocou esses paises em atraso em relação aos demais capitalistas, e embora alguns paises como Cuba tenha quase que erradicado o analfabetismo, o desenvolvimento desse pais se mostrou bastante fraco em relação aos demais, alem de não acabar com a pobreza, insegurança.

Só havia uma saída para esses paises “atrasados”, abrir suas fronteiras e participar do sistema que se mostrava mais seguro e eficaz para o desenvolvimento e diminuição das desigualdades, o neoliberalismo (o capitalismo em sua terceira fase, o do estado mínimo).

Se o capitalismo (neoliberalismo) era capaz de gerar grandes riquezas, também trazia alguns entraves, como a superfaturação dos produtos, capital especulativo, a famosa “bolha” econômica. Tal fenômeno não é novo na economia, no entanto era controlável, até certo ponto. No final do século XX, várias economias começaram a entrar em colapso, como Brasil, Argentina, demonstrando que a qualquer momento o mundo poderia sofrer com uma nova crise econômica mundial. Dito e feito.

Portanto, nós do século XXI teremos que enfrentar o seguinte problema:

O sistema capitalista (liberal, neoliberal), se mostrou como o melhor para gerar riquezas (e precisamos de muito dinheiro pra comprar comida pra todo mundo).

Porém, o principio desse sistema é o acumulo, concentração das riquezas e não a distribuição igualitária da renda.

O programa social utópico (proclamado por Marx) também se tornou ineficaz no combate a desigualdade social e à melhoria da qualidade de vida, visto que, é pobre (economicamente) e esbarra em características da essência humana como egoísmo, VAIDADE, orgulho.

Os paises que adotaram radicalmente o socialismo não conseguiram acabar com os problemas da saúde, saneamento básico, alimentação adequada, acesso cultural, analfabetismo, expectativa de vida, mortalidade infantil, etc.

Uma alternativa viável seria unir a capacidade de gerar riquezas do sistema capitalista (neoliberal) com os programas do comunismo, não sendo radical nem em um nem em outro sistema, a questão é: como fazer essa conciliação?

POR QUE INVESTIR NO BEM ESTAR SOCIAL

Um dos grandes problemas para o investimento privado em questões sociais, é que, aparentemente essa é uma área que não traz lucro alto e imediato, ex.: Por que investir em saneamento básico de um determinado bairro, se não haverá lucro nisso?

A premissa do sistema capitalista (neoliberal) é investir para ganhar, no entanto nas áreas sócias nada se ganha quando se investe. Estará ai uma falácia?? Veremos.

Diversas pesquisas demonstraram que o bem estar do individuo traz como conseqüência uma melhora na qualidade de vida, e tendo uma vida melhor, o individuo poderá realizar suas atividades com mais prazer, além de trazer para si e para o meio em que vive, mais alegria e harmonia.

Grandes empresas, a partir da segunda metade do século XX, ao perceberem isso começaram a investir num ambiente de trabalho mais agradável, menos estressante, além de contratarem psicólogos, personal trainner, nutricionistas, criação de áreas de lazer (dentro e fora da empresa, os clubes). Notoriamente os resultados foram bastante positivos, embora muito empresários ainda não tenham compreendido os benefícios de se investir no bem estar social do funcionário e ainda trabalhe com a máxima capitalista “O trabalhador é apenas uma peça da minha linha de produção, se quebrar eu compro (contrato) outro”.

Ora, num primeiro momento isso pode até funcionar, mas quando não há mais peças novas disponíveis, esta na hora de pensar em novas formas de não gastar/perder as peças que ainda possui.

Não se trata aqui de afirmar que o homem é apenas uma peça no sistema capitalista, mas sim, que ao fechar os olhos a esse problema (mal estar social), todos saem perdendo.

O Empresário

Não podemos ser ingênuos e acreditar que todos têm um bom coração e vá investir em questões sociais apenas pelo dever moral.

- Perde o empresário que vê sua produção diminuir ao passo que aumenta a insatisfação de seus funcionários.

- Perde o empresário que deverá pagar maiores impostos ao governo, uma vez que, este terá que arrecadar mais para prover um estado mínimo de sobrevivência a população (uma vez que, o salário do empregado não é suficiente para isso).

- Perde o empresário que vê diminuir seu faturamento, visto que, o mercado consumidor possui menor poder de compra.

O Estado

- Perde o governo, que vê aumento da desnutrição, mortalidade infantil, numero de pacientes em hospitais, aumento da violência domestica, aumento no uso de entorpecentes (drogas), aumento de conflitos sociais (familiares, e de classes).

- Perde o governo, que não conseguira criar ou desenvolver novos projetos para o estado, visto que, ficam “travados” buscando resolver os problemas sociais (tampando o sol com a peneira).

- Perde o governo, que vê aumentar seu orçamento para “remediar” as várias situações emergenciais e “imprevisíveis” (como as enchentes em São Paulo), quando poderia gastar muito menos se pudesse prevenir tais acontecimentos.

- Perde a sociedade, que ao não ter acesso a educação de qualidade não poderá esperar num futuro próximo grandes cientistas, pensadores, intelectuais, ficando passiveis a vontade e valores das criações externas.

- O convívio social harmônico se torna inviável numa sociedade onde são grandes os problemas sociais, há entrave do progresso, enfraquecimento da economia, aumento da violência, etc...

Incita uma regressão no convívio social, levando o homem próximo ao seu Estado de Natureza (como descrito por Hobbes), vivendo num estado de conflitos constantes e insegurança.

Uma sociedade onde perpetua a baixa e desigual condição social entre seus povos tende a selvageria, tende a tornar “o homem lobo do homem”.

O DEVER MORAL

Aqui trata-se da própria dignidade de se investir em seres humanos, considerando-os como tal, e não apenas como uma máquina ou um número estatal.

Trata-se de valorizar a vida em todos os seus aspectos, considerando o individuo como um animal racional, livre, pensante, portador de direitos e deveres, semelhante e iguais em seus direitos.

Trata-se de promover ao ser humano condições mínimas de sobrevivência, capacitando-o a exercer plenamente suas habilidades sociais, psíquicas, biológicas, físicas.

Trata-se de valorizar e dignificar a vida humana.

Um dever moral de todos que compartilham da mesma existência social, visto ser o homem um animal tipicamente político.

Portanto é mister, necessário, inegável e urgente o investimento num Estado de Bem Estar Social.

Apesar de todos os desafios e batalhas que devemos travar para atingir tal objetivo.

A questão do Meio Ambiente

Indubitavelmente o Bem Estar Social é pré-requisito para a coexistência humana, um Estado de Bem Estar Social é onde não há grandes diferenças entre classes, os problemas são mínimos ou zeros (ex. segurança, cultura, educação, saneamento básico), e também aquele que propicia a conservação do meio onde vive, protegendo assim a vida em todos os seus aspectos.

Tem tomado grande relevância na mídia nos últimos anos a degradação que o homem vem causando ao Meio Ambiente (embora o problema não seja novo), através do desenvolvimento urbano (criação de fabricas, carros, aumento no numero de pessoas, do consumo, etc) o homem tem interferido negativamente no processo cíclico natural do ambiente, transformando-o, de tal forma que suas conseqüência tem trazido malefícios aos humanos, ameaçando sua existência. Assim, atrelado aos investimentos sociais já necessários historicamente (conforme descrito acima), hoje em dia devemos também nos preocupar e investir na conservação do meio no qual vivemos, ou seja, da natureza, do contrário não haverá espaço habitável para desenvolver as tão necessárias políticas sociais.

Uma vez que o problema é social (ou seja, da sociedade), ele não é apenas dos empresários ou governantes, e sim de todo aquele que convive em sociedade, ou seja, todos nós.

Tal consideração é importante, pois não basta apenas um modelo econômico viável, um governo interessado e conscientização da massa dominante se cada um de nós não fizermos nossa parte.

Portanto, o problema a ser resolvido não seja apenas como conciliar desenvolvimento econômico com bem estar social e sim “O que cada um de nós enquanto cidadão, governante, empresário deve fazer para possibilitar essa conciliação e um convívio melhor, uma melhor qualidade de vida para todos?”.

O PROBLEMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

É preciso democratizar as relações econômicas

Ladislau Dowbor

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) propõe, neste ano, a Campanha da Fraternidade, com o tema “Economia e vida”. Tem o objetivo de “unir Igrejas Cristãs e pessoas de boa vontade na promoção de uma economia a serviço da vida, sem exclusões, construindo uma cultura de solidariedade e paz”.

Para refletir sobre o contexto atual da economia e suas perspectivas, convidamos Ladislau Dowbor, consultor e professor de Pós-Graduação em Economia e Administração na PUC-SP.



Mundo Jovem: Você usa o conceito “democracia econômica”. O que quer dizer isso?


Ladislau Dowbor: O conceito de democracia econômica é bastante simples. A economia se tornou tão importante na estruturação moderna do mundo que não basta a democracia política. Nós temos que gerar sistemas de democratização da própria economia. Em termos mundiais nós estamos atingindo limiares de desigualdade que são críticos. Nós estamos atingindo níveis de deteriorização do meio ambiente, no planeta, que é outro eixo crítico. E nós estamos chegando a um nível de exclusão de cerca de quatro bilhões de pessoas no mundo. Cerca de dois terços do planeta estão sendo excluídos dos processos produtivos modernos. E está visto que os processos políticos tradicionais, apropriados gradualmente pela grande massa econômica, deformam simplesmente todos os processos de desenvolvimento. Ou seja, não basta ter câmaras de vereadores, deputados e presidentes eleitos, é necessário que as próprias dinâmicas econômicas, em particular as que estão em grandes escalas, passem a ser controladas democraticamente.


Mundo Jovem: Que valores são importantes numa democracia econômica?


Ladislau Dowbor: Até hoje nós trabalhamos com uma visão de que é preciso aumentar o Produto Interno Bruto (PIB). Mas o PIB mede apenas o crescimento das atividades comerciais. Não mede a qualidade de vida. Essa é a grande mudança. Quer dizer, nós queremos viver melhor, sem destruir o planeta, sem prejudicar as gerações futuras. Porque com as tecnologias modernas nós podemos todos viver de maneira digna e confortável.

Se pegarmos o PIB mundial, que é de 55 trilhões de dólares hoje, e dividirmos pela população, vamos ver que existem cerca de cinco mil reais por família de quatro pessoas, por mês, no planeta, de produção de bens e serviço. Ou seja, com o que produzimos atualmente dá para todos viverem de maneira digna e confortável. O problema é que são produzidas coisas desnecessárias.


Há uma deformação radical. Você não consegue, por exemplo, os treze bilhões de dólares suplementares que serão necessários para assegurar a saúde materno-infantil e que teria impactos gigantescos para a população. Mas se gasta muito mais do que isso em cosméticos na Europa. Só o volume do que se gasta com alimentos para animais de estimação na Europa permitiria financiar o conjunto de déficit alimentar das crianças no mundo. Morrem anualmente cerca de 10 milhões. Ou seja, a irracionalidade do sistema econômico é simplesmente gritante.


Mundo Jovem: Hoje está se falando bastante em índices de desenvolvimento humano. É um outro enfoque?


Ladislau Dowbor: As Nações Unidas saíram do PIB e incluíram educação e saúde. Já melhorou. Depois começou a se buscar a inclusão de indicadores ambientais também. Fomos indo até chegar a um conceito muito interessante que se chama FIB - Felicidade Interna Bruta. É um jogo de palavras, mas que tem tudo a ver. Nós podemos viver muito melhor de maneira bastante modesta.


Na área da economia, nós temos hoje um conjunto de estudos sobre a correlação entre aumento dos recursos financeiros de que dispõe uma família e o aumento da sua satisfação com a vida. O interessante é o seguinte: é bobagem dizer que o dinheiro não traz a felicidade. Dinheiro traz felicidade, sim. Quando você está muito mal e não tem o suficiente para dar para as crianças, tendo mais dinheiro, melhora a vida. Ou seja, chegar aos produtos materiais elementares é muito importante. Só que depois que você chega a um patamar razoável de vida, tipo classe média, ter mais dinheiro não vai aumentar a felicidade. Então, constatamos que depois que se satisfaz as necessidades básicas, a felicidade, a satisfação com a vida passa a depender de satisfações muito mais intangíveis, que vão desde o familiar até o espiritual e o artístico. Ou seja, nós não precisamos apertar o cinto, fazer sacrifícios. Nós precisamos é usar de maneira inteligente os recursos que existem.


Mundo Jovem: No Brasil tem-se falado muito no crescimento da economia. Como você avalia a importância deste crescimento?


Ladislau Dowbor: Eu acho que o crescimento da economia é importante, mas precisa ver de que lado. Se aumentamos as exportações de soja, melhora a balança comercial. Mas essencialmente isso vai se traduzir em aumento de contas bancárias das empresas e de alguns grandes intermediários e vai se traduzir também numa expulsão de população no campo. Para criar um emprego com soja são necessários 200 hectares. Enquanto que na agricultura familiar, com 200 hectares se emprega montes de famílias. É escandaloso, de um lado, exportar comida e dizer que o país está crescendo e, de outro lado, ter gente passando fome. Ou seja, temos que perguntar: o que está crescendo, o que se está produzindo, para quem e com que custos ambientais?

Como no Brasil nós acumulamos uma gigantesca dívida social, nós precisamos fazer crescer a economia e gerar a inclusão produtiva de uma imensa massa de cerca de 90 milhões de pessoas, que estão na base da sociedade. Nós precisamos puxar essa gente para dentro da sociedade nesse processo. Então, é muito importante que cresça esse lado da economia. Crescer a economia, como estão fazendo em certos bairros de São Paulo, construindo apartamentos de 14 milhões de reais, é um processo simplesmente vergonhoso. E uma frase interessante que vem da Revolução Francesa diz assim: “Nada será legitimamente teu enquanto a outrem faltar o necessário”.


Mundo Jovem: Uma economia mais solidária é uma utopia ou a economia pode servir ao bem comum?

Ladislau Dowbor: A ideia do bem comum e a ideia da sociedade colaborativa, digamos, de maneira mais ampla, a ideia da transição de uma economia da guerra de todos contra todos, da competição, para a ideia da colaboração é uma simples questão de bom senso. E é uma compreensão de para onde estão indo as coisas. Veja bem, quando compramos um produto, 75% do que pagamos não são os bens físicos daquele produto. É pesquisa, é designer, é informação, é conhecimento. São os chamados bens intangíveis. Quando o conhecimento se torna o fator produtivo central numa economia, as coisas mudam. Porque, se eu passo meu conhecimento para você, eu continuo com ele, eu não o perdi. E esse conhecimento vai enriquecer você. Você vai passar esse conhecimento para outras pessoas. E quanto mais multiplicamos esse conhecimento, mais a sociedade no conjunto se enriquece. Então os processos colaborativos estão se tornando simplesmente mais inteligentes. Grandes empresas farmacêuticas, por exemplo, estão descobrindo que o fato de elas disponibilizarem i formações sobre seus medicamentos na internet permite que milhões de usuários levem a eles reações que um medicamento causa, que eles em nenhuma pesquisa conseguiriam ter.


Mundo Jovem: No Brasil, os empresários e a classe média, gritam muito que se paga muitos impostos. Isso é verdade?


Ladislau Dowbor: O problema dos impostos é um argumento, a meu ver, de má fé, muito utilizado por quem fala mal do governo. A realidade básica é a seguinte: o Brasil está pagando de impostos na faixa de 38% do PIB. O que, para o nível de desenvolvimento do país, é relativamente baixo. O imposto não é elevado. Segundo ponto: nosso imposto é injusto.


Ou seja, a maior alíquota é de 27,5% sobre a renda. Nos países desenvolvidos vai até 80 ou 90%. A faixa básica desses impostos para pessoas de renda mais elevada está entre 50 e 70%. Aqui os ricos pagam pouco, sobretudo porque têm advogados. E os pobres, que são os assalariados e têm declaração feita por terceiros, pagam muito mais. O imposto é mal distribuído. Esse é o problema.


Mundo Jovem: E quanto à forma de gastar o dinheiro dos impostos?


Ladislau Dowbor: Se considerarmos que usamos, por exemplo, boa parte dos recursos da educação para financiar universidades públicas, às quais, essencialmente, só os ricos têm acesso, pela qualidade dos cursinhos, estamos subvencionando a parte rica da sociedade. Em vez de fazer redistribuição, estamos reforçando a concentração de renda. Então o problema central é ver em que aplicamos o uso inteligente dos recursos públicos. Porque quando falamos em imposto, falamos do lado fiscal, a captação do dinheiro pelo governo. E esquecemos de discutir a outra parte: o orçamento, em que o dinheiro é aplicado. Nós precisamos de um sistema de impostos que realmente redistribua a renda no país

O BICHO PAPÃO DO NEOLIBERALISMO

SE CORRER O MERCADO PEGA, SE FICAR...

Ele come e fim de papo. O bicho parece bonzinho, mas é devorador e diabólico. Esta na cabeça e nas estranhas das pessoas; no mercado, na rua, na mídia, na empresa, na família... E adora também dar uma entrada nas igrejas. Atende por nomes diversos. Porem um dos mais usados é o neoliberalismo.

Dirceu Benincá

(Doutorando em ciências sociais, PUCP-SP)

Tenho muito medo desse bicho. Ele vive matando. Prefere o sangue de crianças, trabalhadores, indígenas e pobres em geral. Seu lema é antigo e atual: “Decifra-me ou devoro-te”. Sua base é o mercado. Seu negocio é vender. Para isso, trabalha com o desejo dos consumidores. “E quem pensa a partir do desejo nunca tem o suficiente”, explica o professor Jung Mo Sung. Entre os efeitos mais notórios do bicho papão acham-se os seguintes:

Exclusão social: Cresce a categoria dos considerados não-gente. Hoje, quem não tem poder econômico, não é. Os excluídos não contam porque, ao sistema, nada acrescentam. Por este motivo, são tratados como coisas que falam , expressão utilizada pelos romanos em referencia aos escravos. Existiam as coisas que falavam e as coisas que não falavam. Escravos eram coisas que falavam, mas não eram escutados.

Culpabilização de vitima: O sistema leva você a acreditar que todo o fracasso é culpa sua. Quem não consegue competir, passa a pensar que ele é o incompetente e que sua incompetência tem um preço. Quem se sente culpado, habilita-se a aceitar que deve pagar uma pena. E, quem é penalizado constantemente, vai perdendo a autoestima e a dignidade. Quem perde a dignidade, passa a pensar que não tem direitos. E quem acha que não tem direitos, perde também a vontade de lutar.

Crescimento da violência: O fenômeno é complexo. A violência não se reduz a um impulso oriundo de quem tem fome e esta sem comida. Entretanto, sem comida distribuída entre todos os que tem direito a sentir forma, não pode existir paz. Vale lembrar que, no mundo, de cada cinco pessoas, duas vivem com menos de R$ 6,00 por dia. As causas da violência são múltiplas, mas não podem ser ignoradas as de caráter socioeconômico.

Consumo ilimitado: O neoliberalismo cria símbolos e ídolos. O ídolo passa a estimular desejos miméticos. Instiga a querer o mesmo que o outro deseja. Assim se fortalece a concorrência e a corrida ao consumo. Imprimir esta lógica nos indivíduos é tudo o que o sistema de mercado deseja. Se você entrar nesse esquema, o bicho já lhe pegou. Livrar-se dele não é tarefa fácil. Se, por um lado, há desejos que são necessidades e precisam ser satisfeitos, por outro, existem desejos que devem ser vigiados e controlados, pois são verdadeiros instintos do sistema.

Estresse globalizado: Hoje vivemos os efeitos de uma globalização sedentária. O capitalismo nos quer assim, não críticos e ativos, mas ativistas (ou desocupados) ingênuos. Enquanto fazemos coisas, não paramos para pensar. E se não paramos para pensar, não questionamos. Não questionar é tudo o que ele espera. O ativismo tem seus agregados: a irritação, a angustia existencial, a tensão, a intolerância, etc., levando à depressão, à doença e mesmo à morte. De tudo é salutar livrar-se.

Para impedir que o bicho nos pegue e nos devore de vez, é preciso prendê-lo pelos chifres. E não adianta ir sozinho, pois ele tem força. É fundamental resistir, articulando as múltiplas forças que desejam alcançar outros horizontes: da sociedade justa, solidária e sustentável. Não podemos imitar o bicho que exclui, devora e depreda. Se estivermos bem organizados, quem vai ter que correr é o bicho. Podes crer.

Para refletir.

Quais foram os sentimentos despertados na leitura?

Como percebem a influencia do neoliberalismo na constituição da vida dos jovens?

Quais são as ações individuais e coletivas que podemos fazer para sermos menos coisas?

Forma de Avaliação

AVALIAÇÃO

PROVA

Todas as provas serão compostas de questões objetivas (marcar x) e dissertativa (redação) e terá de 10 a 15 questões divididas em três níveis.

- As questões de nível 1 são objetivas, onde o aluno deverá assinalar a alternativa correta que corresponda ao autor/pensamento estudado, ou seja, o aluno devera demonstrar ter aprendido os conceitos/autores/pensamento estudado.

Exemplo questão Nível 1

1) Segundo Aristóteles (384-322 a.C), a arte possui um caráter purgatório/purificador, capaz de provocar um sentimento de satisfação espiritual no individuo que a faz/contempla. O conceito utilizado pelo filósofo para determinar essas características na arte é:

a) Mímesis d) Positivismo

b) Catarsis e) Existencialismo

c) A priori

- As questões de nível 2 são objetivas, onde o aluno devera assinalar a alternativa correta após relacionar o conhecimento apreendido com demais saberes, bem como comparar pensamento/autores.

Exemplo questão nível 2

1) Acreditava que toda obra de arte era mimética, ou seja, apenas uma cópia que estava afastada 3 graus da Verdade, portanto era inútil ao estado, dizia o filósofo “Se um artista aparecer em nossa cidade, vamos tratá-lo bem, em seguida vamos convidá-lo a se retirar de nossa cidade”. – Acreditava que mesmo a obra de arte ser mimética e estar afastada da Verdade, ela pode ser útil sim ao estado, pois contribuiu para a educação/formação dos jovens.

De acordo com seus conhecimentos sobre o assunto, tais definições sobre as obras de arte podem ser atribuídas, respectivamente à:

a) Aristóteles e Platão d) Sócrates e Aristóteles

b) Santo Agostinho e Platão e) Platão e Kant

c) Platão e Aristóteles

  • Nota-se que nesse caso não basta ter decorado o pensamento dos autores, é preciso compará-los.

- As questões de nível 3 serão dissertativas. Nela o aluno devera utilizar o pensamento do autor estudado, relacionar à problemas cotidianos (apresentado na questão) e buscar apresentar uma solução para o problema.

Exemplo questão nível 3

1) A Industrial Cultural tem contribuído para o enfraquecimento do Belo nas obras de arte. Sendo o Belo a capacidade que a obra de arte tem em produzir o efeito catártico, apresente sugestões de como poderemos utilizar a Industria Cultural para realizar produções artísticas bela (Catártica) e não apenas massificação mimética.

TRABALHO

Para os trabalhos realizados em sala ou fora da sala de aula, a forma de avaliação será de acordo com as questões de nível 3 da prova, ou seja, não basta apenas resumir o pensamento do autor estudado, objetiva-se apresentar sugestões, criticas, opiniões aos problemas propostos e possíveis soluções.