quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Alegoria da Caverna - Platão

Alegoria da Caverna

Platão – A Republica: Livro VII

Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de

acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma

de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão

lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer

no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões;

serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a

fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro,

no gênero dos tapumes que os apresentadores de fantoches colocam diante do público, para mostrarem

as suas habilidades por cima deles.

– Estou a ver – disse ele.

– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objetos, que o

ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor;

como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.

– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.

– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham

visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projetadas pelo fogo na parede oposta da

caverna?

– Como não – respondeu ele – se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

– E os objetos transportados? Não se passa o mesmo com eles?

– Sem dúvida.

– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam

estar a nomear objetos reais, quando designavam o que viam?

– É forçoso.

– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse,

não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?

– Por Zeus, que sim!

– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão

a sombra dos objetos.

– É absolutamente forçoso – disse ele.

– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da

sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém

soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar

para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras

via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs,

ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais?

E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer

o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos outrora eram

mais reais do que os que agora lhe mostravam?

– Muito mais – afirmou.

– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para

Leia o texto a seguir:

O Deserto do Real 29

Filosofia

buscar refúgio junto dos objetos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade

mais nítidos do que os que lhe mostravam?

– Seria assim – disse ele.

– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem

fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim

arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada

daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objetos?

– Não poderia, de fato, pelo menos de repente.

– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais

facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objetos, refletidas

na água, e, por último, para os próprios objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há

no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do

que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.

– Pois não!

– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na

água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.

– Necessariamente.

– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo

dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.

– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.

– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus

companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os

outros?

– Com certeza.

– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prêmios para o que distinguisse com

mais agudeza os objetos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em

primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em

predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia

entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo

“servir junto de um homem pobre, como servo da gleba”, e antes sofrer tudo do que regressar àquelas

ilusões e viver daquele modo?

– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.

– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu –. Se um homem nessas condições descesse de novo

para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?

– Com certeza.

– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado

sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de

se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo

superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão? E a quem tentasse soltá-los e

conduzí-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam0?

– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

Referência

Livro Didático Publico do Estado do Paraná: disponível em:

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/livro_e_diretrizes/livro/filosofia/seed_filo_e_book.pdf

ATIVIDADE

Faça um desenho ilustrando o Mito da Caverna. (Individual)

Em seguida faça grupo de 3 pessoas e apresente seu desenho ao grupo, em seguida discuta com o grupo o Mito da Caverna. Como o grupo compreende a Alegoria da Caverna?

Após a discussão em grupo, rediga um pequeno resumo sobre o que o grupo entendeu sobre o Mito da Caverna de Platão. Faça uma relação com algum tema do cotidiano (Sugestão: EDUCAÇÃO, TV, Internet, POLÍTICA). (Um texto por grupo de até 3 pessoas).

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